Movimento Pró-Democracia

Nossas lutas: * Conscientização Política da População * Instrução dos Direitos e Deveres do Cidadão * Fiscalização dos Processos Eleitorais

14 de jan. de 2011

Falhas de comunicação em série agravaram desastre histórico na Região Serrana do Rio

RIO - Falhas no sistema de comunicação entre a Defesa Civil do Estado e os 92 municípios possibilitaram que a causa do maior desastre na história do Estado fosse ignorado. Na terça-feira, horas antes das chuvas que deixaram, pelo menos, 497 mortos na Região Serrana, o órgão recebeu um boletim alertando para a existência de "condições meteorológicas favoráveis àocorrência de chuvas moderadas ou fortes".

O aviso foi emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e repassado pela Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec). Todas as comunicações foram feitas por e-mail. Ainda assim, pelo menos uma prefeitura local, a de Teresópolis, alegou não ter recebido o informe.

A formação da grande tempestade foi detectada inclusive pelo novo radar da Prefeitura do Rio, o doppler, instalado em dezembro no Sumaré. O aparelho é capaz de identificar a origem de grandes precipitações num raio de 250 quilômetros - mais do que o suficiente para abranger a Região Serrana. No entanto, as imagens que poderiam ter sido coletadas por esta estrutura não foram repassadas.

Estado: faltam meteorologistas

De acordo com o prefeito Eduardo Paes, mesmo que o radar tenha flagrado a formação de temporais próximo á Região Serrana, não seria possível emitir um alerta aos municípios.

- O radar fornece fotografias, mas o sistema de análise é mais complexo: ele envolve dados como imagens de satélite, dados geológicos e redes pluviométricas - pondera. - Nossos meteorologistas nunca poderiam fazer previsão de outras cidades sem ter essas informações.


Segundo Paes, sequer as imagens captadas pelo radar poderiam ter sido repassadas a outras instâncias:

- Não sei se o Estado e essas cidades têm meteorologistas.

A Secretaria de Saúde e Defesa Civil do Estado informou que a oferta da prefeitura é "genérica", e ainda não houve tempo para decidir como serão feitas as análises das imagens do radar. Segundo a assessoria do órgão, os técnicos só seriam responsáveis pelo repasse dos boletins meteorológicos, por e-mail, aos municípios. Cada prefeitura seria encarregada de efetuar um plano de contingência. No entanto, a secretaria não divulgou se há meteorologistas em seu quadro de funcionários.

O problema também só destacado pelo meteorologista Manoel Gan, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

- Ainda faltam radares e outros sistemas de detecção de tempestades, mas o maior déficit só de profissionais - critica. - Esses equipamentos requerem mão de obra especializada. E, daqui a cinco anos, a grande maioria dos meteorologistas que ainda estão na ativa já terá se aposentado.


Sem as imagens do radar do Sumaré, a única previsão que subiu a serra veio do Inmet. O aviso especial 12/2011, emitido pelo órgão, foi enviado na terça-feira á tarde para a Sedec. Esta repassou os dados ás 13h56m para a Secretaria estadual de Defesa Civil, ao comando-geral do Corpo de Bombeiros do Rio e à Secretaria Especial de Ordem Pública. O boletim alertava para o "índice significativo" de chuva acumulado em todo o estado, destacando a Região Serrana.

O prefeito de Teresópolis, Jorge Mário (PT), afirmou que o risco não chegou a ser comunicado para seu município:

- Não houve aviso de que poderia ocorrer aquela tragédia. A informação que eu tenho é que ela (a tempestade) não poderia ter sido prevista.

Na vizinha Nova Friburgo, o alerta chegou, de acordo com o secretário estadual de Ambiente Carlos Minc. A população, no entanto, não foi comunicada.

- Nosso equipamento que monitora a altura do rio em Friburgo funcionou, mas tem de haver um treinamento prévio para que as pessoas em suas casas sejam avisadas - ressalta.

Professor de meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria, Ernani Nascimento elogia o investimento da prefeitura do Rio no radar de Sumaré, mas acredita que o sistema pode ser ampliado.

- Um sistema possível, já testado em Campinas, usa sirenes - lembra. - Alguns moradores têm pluviômetros em casa e são treinados para, com o equipamento, perceber a gravidade das precipitações. Se uma chuva for grave, eles acionam o alarme, permitindo que as pessoas evacuem suas casas.

A tragédia levou o governo do Estado e a prefeitura do Rio a recorrer à médium Adelaide Scritori da Fundação Cacique Cobra Coral (FCCC) que diz controlar o tempo. O convênio foi renovado anteontem às pressas.


Fonte: O globo

0 comentários: