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1 de jan. de 2011

O legado de Lula de acordo com um jornal Argentino

Fonte: http://m.pagina12.com.ar/diario/elmundo/4-159626-2010-12-31.html Por Eric Nepomuceno, jornalista e escritor.

Quem souber ler em Espanhol é só conferir lá, pra quem não tem essa facilidade eu traduzirei para o Português. As vezes é bom ver jornais de fora do país para evitar as falhas de parcialidade nos jornais nacionais.



Depois de ocupar a presidência durante 8 anos, Luiz Inácio Lula da Silva, ex operário metalúrgico, ex dirigente sindical, se transforma no presidente mais popular dos últimos 60 anos. A dois días de entregar o posto a Dilma Rousseff, do seu Partido de los Trabalhadores, Lula conheceu o resultado de uma pesquisa de opinião pública. Seu governo foi aprovado por 83 por cento dos entrevistados, e ele por 87 por cento deles. Se ele se candidatasse para um terceiro mandato presidencial (a Constituição brasileira não o permite), Lula certamente teria sido o candidato mais votado da historia. Seu legado se pode medir em números impressionantes e também em algo menos tangível, mas subjetivo, mas quem sabe menos definitivo.

Este ano, a produção automobilística quebrou todos os recordes: com vendas totais de 3.400.000 veículos leves, Brasil se tornou o quarto mercado do mundo, superado somente por China, Estados Unidos e Japón. Os índices de desemprego são os mais baixos dos últimos 43 anos. A economia cresceu 7,6 por cento en 2010. Nesses oito anos, cerca de 34 milhões de brasileiros saíram de uma economia de subsistência e entraram para uma economia de mercado (o que equivale a duas vezes a população do Chile, dez vezes a do Uruguay, três vezes a de Portugal, meia França, quase uma Espanha inteira). Outros 12 milhões saíram da indigência absoluta e ingressaram na pobreza, o que não deixa de ser uma mudança.

Entre 2003 e 2010, os terminais de ônibus perderam três milhões de passageiros. Por sua vez, as companhias aéreas tiveram um aumento de quase 12 milhões de passageiros no mesmo período. Quem já viajava passou a viajar mais, e gente que nunca teria sonhado em viajar agora circula pelos caóticos aeroportos do país. A lista é longa e abarca a praticamente todos os setores de atividades da economia e, claro, da população.

Brasil, graças a sua “diplomacia personalista” de Lula e ao impulso da economia, ganhou uma nova (e inédita) inserção no cenário global. O país se tornou um dos principais captadores de recursos e capitais do planeta.

É bem verdade que as duas presidencias consecutivas de Lula se beneficiaram dos bons ventos da economia mundial, o que permitiu ao Brasil sobreviver sem mais do que arranhões durante a dura crise que sacode ao mundo desde o segundo semestre de 2008. Também é verdade que Lula herdou de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, uma moeda estabilizada e uma inflação sob controle. Manteve os três fundamentos básicos da política econômica de Cardoso (meta de inflação, meta de superávit primário e cambio flutuante), mostrou que as duvidas e temores sobre o suposto radicalismo que imporia a economia careciam de razão, acalmou ao empresariado e ao mercado financeiro.

Existem outras verdades, menos agradáveis. Tem sido um presidente falastrão, que não perdeu as oportunidades de exaltar seus feitos reais, que foram muitos. Parecia inaugurar o país cada vez que abria a boca. Mas os milhões de pobres se encantaram com um presidente que falou como eles, que atropelou as regras de decoro, que destruiu a gramática, que se mostrou deslumbrado com o fausto e as glórias dos palácios mas, ao mesmo tempo, falou de igual pra igual com os maiores e mais poderosos mandatários do mundo. Foi a classe operária chegando ao paraíso.

Deixa, logicamente, um país com muitíssimas feridas e máculas que carrega o país desde séculos. A desigualdade social foi apenas mitigada, seus grandes programas sociais foram basicamente assistencialistas, o aparelho do Estado está inchado e manteve o perigoso hábito de gastar, e gastar mal, mais do que arrecada.

Deixa um país cuja infraestrutura e caótica (aeroportos, portos, estradas, tudo é deficitário). Un país que investe, em estrutura, muito abaixo dos níveis mínimos necessários para assegurar um crescimento sustentável e sólido. A saúde pública é um desastre, a educação pública é um pouco mais que uma farsa, com professores fazendo de conta que ensinam e com alunos que fingem que aprendem.

Porém, ainda assim, Lula deixa – e esse é seu maior mérito, seu mais valioso legado– um país mais justo. Um país que recuperou o orgulho e a dignidade corroídos por séculos. Devolveu aos pobres a luz em seus olhares, assegurou aos miseráveis o direito concreto a uma esperança realizável. Um país que voltou a acreditar em sí mesmo, algo que não acontecia desde meio século. Ao longo de oito anos governou com a nítida preocupação de atuar a favor dos pobres, e não mais a favor da pobreza de muitos e em defesa da riqueza de poucos. Um país que se olha no espelho e começa a ver sua própria cara, não a do sistema que não fez mais do que atropelar as pessoas em benefício dos de sempre. Lula não acabou com esse sistema, mas acalmou sua voracidade e se voltou para as melhorias aos necessitados. Governou para todos os brasileiros, especialmente para os menos favorecidos.

Existe ainda muito, muitíssimo por fazer sem duvidas. Mas desde o distante tempo de Getúlio Vargas, faz 60 anos, um presidente não se dedicava tanto a trocar o rostro das pessoas, devolvendo o sorriso e a esperança aos esquecidos. Não sem razão chega ao final de oito anos de presidência com a aprovação de 87 por cento dos brasileiros.

Este é o legado de Lula. Traduzido por Leandro Parejo

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